Nosso assunto desta vez é a Grande Conquista da Luz, inspirada na leitura que fazemos do Hexagrama Fogo sobre o Céu, do [yijing|Yi Jing (I Ching)]]. Os mais apocalípticos podem enxergar o fim dos tempos nesta imagem, mas os Mestres Taoístas enxergaram a Grande Conquista no simbolismo deste hexagrama. Não que a impressão dos catastróficos seja incorreta, pois toda conquista é uma conclusão e toda conclusão é um fim. Mas esta visão é incompleta, pois no [yijing|Yi Jing (I Ching)]] aprendemos que todo final traz um novo início! Esta é uma das leis imutáveis do Clássico Sagrado das Mutações. É um pouco do que estudamos no [yijing|Yi Jing (I Ching)]]. Mas observemos o hexagrama.
O Fogo pode ser interpretado como Sol, pois este é um dos simbolismos deste trigrama. Assim teremos o Sol acima, no alto do Céu. Esta é uma imagem de muito brilho, de muita evidência, de grande irradiação, pois o Sol no alto do Céu consegue iluminar todas as direções, sendo visto e percebido por todos os seres que estão sob a sua luz. Esta é uma das razões da sua grandiosidade. Outra análise interessante é ver que o Sol está em movimento no Céu, assim como o Céu é puro movimento (por ser inteiramente yang). O Sol se movimenta no espaço, seguindo seu próprio curso, mas também percorre o Céu que vemos “aqui de baixo”: ele nasce, cresce, atinge um apogeu (meio-dia), declina e se põe… Todos os dias, seguindo o mesmo ciclo, sem se atrasar, sem se adiantar e sem fazer greve!
Já o Céu fala do movimento incessante, contínuo, de todas as coisas que estão dentro dele. O Céu representa a própria mutação de todas as coisas: cada coisa mudando no seu ritmo, no seu tempo, segundo a sua própria natureza. Tudo muda, conforme a lei dos ciclos! Ciclos grandes e pequenos, um dentro do outro: o dia e a noite, uma semana (1/4 de lua), uma lua (um mês), um ano (4 estações)… E se pensarmos tanto no Céu quanto no Sol, pensaremos em grandes ciclos (muito tempo…)!
Aí perguntamos: por que o Fogo sobre o Céu representa a “Grande Conquista”? Combine os simbolismos e veja o que acontece…
Toda grande conquista nos proporciona grande visibilidade, grande evidência, grande brilho. Neste momento, o reconhecimento pelo que conseguimos atingir, obter ou construir vem acompanhado dos benefícios e favorecimentos que o mérito nos traz: o prêmio do concurso, o bônus pelas metas atingidas, a medalha olímpica (e o patrocínio para o próximo período!). Isso é que mais chama a nossa atenção. Assim como é a exuberância do momento em que o Sol está no auge do seu brilho: a energia é abundante e o Céu está muito claro, sem nuvens… No meio-dia não há sombra e a Luz, em sua plenitude, irradia em todas as direções! É o momento da fama, do reconhecimento, da celebridade!
Porém, toda conquista é fruto de um trabalho duro e árduo, durante um tempo que, na maioria das vezes, é longo… O período anterior à conquista exige muito esforço, perseverança, dedicação e paciência, ao longo de muitos ciclos menores. Lao Tzu nos ensina no Tao Te Ching que uma torre de vinte andares começa na fundação, assim como uma viagem de mil milhas começa debaixo dos nossos pés! O ideograma You (de Da You, Grande Conquista) tem esse sentido: luas repetidas, ou seja, muitos ciclos repetidos até se atingir o que é grande!
Nós que estudamos [yijing|Yi Jing (I Ching)]] podemos nos inspirar na imagem grandiosa deste hexagrama para compreendermos que o nosso desenvolvimento também ocorre ao longo de vários ciclos. Cada um no seu tempo e no seu ritmo, cada um seguindo sua própria “órbita”. Sabendo que a grande conquista da Luz, da clareza e da consciência (Fogo em cima) é construída através da perseverança na constante transformação interior (Céu abaixo)!
Saúde e Longevidade!
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Wagner Canalonga, Sacerdote Taoista, Regente do Templo Taoísta em São Paulo, Professor e consultor de [yijing|Yi Jing (I Ching)]]
Fonte: Jornal Tao do Taoísmo – n. 20