Uma das bases da filosofia chinesa e das práticas taoístas é o Qi (Chi). Todos sabem disso. Mas ainda encontramos pessoas com problemas para identificar corretamente o Qi nas práticas.
Semana passada estive envolvido em uma discussão online, em um grupo internacional de Astrologia Chinesa, sobre o “problema” das alterações que ocorreriam no Hemisfério Sul. Claro está que não é necessária nenhuma alteração nos princípios metafísicos chineses para que o Feng Shui ou outra técnica funcione bem por aqui. Mas um grupo de estudiosos da Austrália discorda, alegando várias razões. Esse é o cerne deste texto.
Forças da Natureza
Para alegar uma possível alteração nas referências dos sistemas chineses, eles afirmam que no hemisfério sul a força de coriolis faz com que as massas de ar, os furacões e a água nos ralos tendem a girar no sentido horário e no hemisfério norte seja o oposto. Também existiriam mudanças nas estações do ano, etc…
Mas o que tudo isso tem a ver com nosso texto? Bem, as alegações sempre levam em conta forças da natureza como ventos, estações do ano, coriolis, latitudes quentes e frias. Mas o problema é que estas forças da natureza não são o Qi. O Qi é algo muito mais sutil que uma rajada de vento.
Forças da Natureza, como mencionado, são EFEITOS do Qi. Logo, o Qi é a CAUSA primordial deles e não podemos confundir causa e efeito. Veja que estamos utilizando uma argumentação ocidental, científica. Causa e efeito é um dos pilares da ciência.
Mais Profundamente
Se formos examinar com muito mais profundidade todas estas forças, encontraremos o Qi em seu âmago. Isso está não apenas dentro dos parâmetros da metafísica chinesa como de acordo com a ciência ocidental.
Para os chineses, o Qi é a matriz de tudo, tudo é constituído pelo Qi e é ele que faz as ações ocorrerem. A própria vida se deve ao Qi, pois sem ele apenas existe a matéria morta. Vida é uma atuação dinâmica do Qi. Quando estudamos Feng Shui e relacionamos uma corrente de ar a um fluxo de Qi, estamos reafirmando essa relação pois o ar é Qi e seu movimento também é Qi. A essência verdadeira e profunda da água e do fogo é o Qi – eles são apenas suas manifestações. Isso é muito importante: tudo o que vemos, todas as forças da natureza, são manifestações do Qi. Assim, gravidade, calor, coriolis, ondas eletromagnéticas, eletricidade, são manifestações do Qi. Cientistas chineses detectaram, nos anos 1980, ondas infravermelhas sendo emitidas por um praticante de Qigong, pois essas ondas também são manifestações do Qi, embora não sejam ele em si. Aí temos um problema.
O Qi e a Ciência
A grande questão é que o Qi não é aceito pela ciência ocidental simplesmente porque não pode ser detectado ou quantificado. Poderia ser ao menos uma excepcional hipótese de trabalho para explicar vários fenômenos, mas o preconceito impede que isso aconteça.
A Teoria da Grande Unificação (TGU) é um exemplo. Trata-se de uma teoria que englobaria todas as interações naturais em um único modelo. Albert Einstein foi um dos primeiros a tentar através de sua Teoria dos Campos Unificados, que procuraria integrar as quatro forças naturais: força nuclear forte e fraca, eletromagnetismo e gravidade. Ele não conseguiu e passou a bola. Stephen Hawking, o conhecido físico teórico inglês, postulou essa conexão durante muito tempo, mas acabou acreditando em sua impossibilidade.
Entretanto a idéia está aí, como esteve há muitos milênios, pois tanto chineses quanto indianos sempre acreditaram nesse princípio único universal: o Qi ou Prana.
Vale lembrar que a chamada “matéria escura”, constituinte do Universo, era uma teoria científica viável, passou a mito desacreditado e voltou recentemente com força total, pois encontrou-se evidências de sua existência.
Conclusão
Quando vemos qualquer tipo de força ou energia na natureza, podemos ficar certos de estar na presença de um efeito do Qi, uma de suas manifestações. Se você quiser luz, você vai ligar o interruptor na parede, não é? A luz e o calor são manifestações da eletricidade, mas não a eletricidade em si. Você pode regular o brilho da luz e a intensidade do calor regulando a tensão e a corrente elétrica, da mesma forma que um acupunturista regula o Qi para devolver o equilíbrio e a saúde a um enfermo. Não lidamos diretamente com o calor e a luz, mas com eletricidade. Não lidamos diretamente com a doença, mas com o Qi.
Então procure não confundir causa com efeito. Quando se lida com o Qi, se lida com a essência básica do Universo e não meramente suas manifestações.
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Gilberto Antônio Silva é Escritor, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, atua amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica cultura chinesa através de cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura oriental e Taoismo. Site: www.laoshan.com.br